Para, Robinho!
Para, Robinho!
Até um atacante veloz tem que saber a hora de parar, ser menos impulsivo com as palavras e, claro, com o corpo. Ouça o que as pessoas têm a dizer, sem antes se achar perseguido. Sabe aquela história, que sempre te disseram, de que “você é um exemplo”? Pois é, você é o exemplo do Brasil que a gente precisa discutir.
Pensa comigo: Lembrei-me de que, há mais ou menos uma década, te vi numa lista das personalidades mais bonitas do Brasil. Era um time de feras, ou melhor, de gatos, de Cauã Reymond a Gisele Bündchen, e você estava lá - merecidamente, diga-se de passagem. (Isso pode parecer não ter nada a ver com nada, mas eu chego no nexo.) Imagina se um dos seus admiradores que te incluíram nessa lista tivesse te encontrado bêbado numa boate e visse ali uma oportunidade de “se dar bem com o gato da revista”. Você estaria vulnerável, uma presa fácil para quem sentisse tesão e achasse natural que, não podendo reagir, você não recusasse as brincadeiras sexuais. O admirador iria para casa realizado, telefonando para contar aos amigos que ele tinha acabado de comer o Robinho. E você ficaria ali, com as marcas de uma violência que ninguém notou.
Sabe, Robson, o Brasil é o país das estatísticas discrepantes e tem uma em especial sobre este tema: muitas mulheres brasileiras já foram violentadas, mas quase nenhum homem violentou. E não há nada sobrenatural ou alienígena em jogo, é apenas uma disputa de versões. Grande parte dos homens acha natural “aproveitar a oportunidade” com uma mulher indefesa, porque há no país uma mentalidade de que “o homem é o caçador e a mulher que se cuide, não saia sozinha, não use roupa curta, não beba demais, senão créu”. A isso chamamos (hoje) de “cultura do estupro”, desnaturalizando o abuso, pois aprendemos a repensar comportamentos herdados de nossos antepassados.
E aí você, réu confesso no caso italiano, “se defende” dizendo que a culpa é do feminismo, que você está sendo perseguido, como Bolsonaro, e que confia em Cristo. Não pedala, Robinho! O feminismo tem sido um dos movimentos mais importantes das últimas décadas, a ele devemos, por exemplo, os referidos esclarecimentos sobre a violência de gênero. Cristo foi um importante defensor das mulheres, inclusive as prostitutas, e não há relatos de que tenha aproveitado sua popularidade para “se dar bem com elas”. Quanto a Bolsonaro, bem... quero te lembrar que, se dependesse do projeto de lei do então deputado, você estaria neste momento prestes a ser castrado.
Não se vitimize, a vítima não é você! Você errou e pode aprender com seu erro, se desculpando com a(s) mulher(es), assumindo sua culpa, pagando o que deve e ensinando ao Brasil que deve haver limites até para os homens poderosos. Você é o produto de uma sociedade abusiva, um exemplo de que educar meninos para serem caçadores insistentes é um erro (“Ah...a mulher diz não, mas ela cede, se tu der mole outro pega, se não pegar é viado...”). Chega! O Brasil não aguenta mais tanto desrespeito...
Marcelo Brandão Mattos