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Foto do escritorIbi Literrario

Paulo Gustavo

5 de maio, RIP Paulo Gustavo


A dor de te perder, Paulo, é a dor de 400 mil perdas. Choramos com você o que já não somos. Fomos o país da vida, hoje somos da morte. Formos o país da cura, hoje somos da doença. Fomos o país da alegria, hoje somos da tristeza. Choramos com você a perda da brasilidade. O seu escracho sempre foi a nossa marca, sentimo-nos representados no seu improviso, no seu riso frouxo, nessa mistura de glamour e favela, nessa possibilidade de agregar os mais diferentes e (veja que loucura!) agradar a todos (bem... a quase todos!).


Por isso a sua perda é tão mais sentida. Perdemo-nos em você, com você. A sua falta é também a falta da nossa esperança. Despedir de você é um pouco despedir do sonho de voltar a ser feliz, de voltar a agregar, de voltar a acreditar num país que sempre foi símbolo de alegria e generosidade (mas se perdeu!). Você agora parte e ficamos em busca de nós mesmos, à procura de um entendimento sobre o que podemos ser a partir de hoje. Ficamos sem roteiro, sem a mãe da nossa peça.


O Brasil está de luto e Niterói está de muito luto. Aqui nesta cidade onde só existem três pessoas (eu, você e aquele nosso conhecido), todo mundo tem uma história com você. Todo mundo já bebeu um chopp com você no treco, já trocou uma ideia contigo tomando uma água de coco na Moreira César (que agora vira Paulo Gustavo!), já riu com você e sua mãe (a da vida real) no Reserva Cultural, tem lembranças de você e da Juju, muito antes dos palcos teatrais, fazendo a galera morrer de rir nas festas na casa dos outros (uma instituição niteroiense). Aqui, sentimos a falta de um ídolo e de um velho camarada.


Estamos muito de luto, mas a ironia da língua portuguesa é que o luto, que nos paralisa, parece com o “eu luto”, que é a nossa força de superação. Então é assim: Ficaremos aqui lutando. Vamos em frente, sabedores de que um dia todos nos encontraremos na esquina que há entre o céu e a terra. Você apenas vai na frente, Paulo, como sempre fez na vida.


Um abraço,

Marcelo


(PS.: Vamos abraçar muito dona Déa, Juju e Thales. Não vamos deixar que nada de ruim aconteça a Romeu e Gael. E você, quando estiver lá em cima, não deixe de dar um abraço nos nossos, eles devem estar precisando da sua alegria. Pessoalmente, peço que foque num senhor simpático de barba branca e sorriso largo, ele com certeza vai ao seu encontro. Meu pai partiu meses antes e teve uma despedida muito parecida com a sua. Ele adora o seu humor e você vai adorar as histórias de família que ele tem para contar.)

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